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Branca de Neve e os Sete Problemas: Como a Disney Destruiu um Clássico para Te Ensinar uma Lição


"Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?"

A pergunta icônica, que por séculos sustentou o conflito central da história de Branca de Neve, parece ter perdido o sentido. A nova adaptação live-action da Disney não apenas subverte essa questão, mas a elimina completamente. Afinal, segundo a própria atriz principal, "essa não será uma história sobre beleza".

E aqui está o problema: Branca de Neve sempre foi uma história sobre beleza, inveja e poder. Ao remover esses elementos, o que resta? Apenas uma versão distorcida, criada não para contar uma boa história, mas para atender a uma agenda ideológica vazia e forçada.

A Origem da Obsessão pela Beleza: Por que "Fairest" e Não "Most Beautiful"?

Para entender a gravidade da descaracterização, é preciso voltar à raiz da história. No conto original dos Irmãos Grimm, a Rainha Má deseja ser a mais bela do reino porque, em sua época, beleza e poder estavam entrelaçados. A estética não era apenas um capricho; era um símbolo de status, juventude e, acima de tudo, superioridade.

Quando a Disney adaptou a história em 1937, escolheu cuidadosamente as palavras. Em vez de simplesmente perguntar quem era "the most beautiful", a Rainha questiona quem é a "fairest". Em inglês arcaico, fair não significa apenas bonito, mas também justo, puro, nobre. A Rainha não queria apenas superar Branca de Neve em aparência, mas em perfeição total.

O live-action, no entanto, ignora essa profundidade. A questão da beleza foi removida porque os criadores parecem acreditar que focar nisso seria "problemático". Mas sem esse conflito, a rivalidade entre a Rainha e Branca de Neve perde qualquer sentido. O que resta? Uma vilã sem propósito e uma protagonista sem desafios reais.

Uma Representatividade Falsa e Forçada

Desde o início da produção, ficou claro que essa adaptação não respeitaria nem a animação original, muito menos o conto dos Irmãos Grimm. A primeira grande polêmica surgiu com a escalação de Branca de Neve. Em vez de uma atriz que correspondesse à descrição clássica—"branca como a neve, cabelos negros como ébano, lábios vermelhos como sangue", a Disney escolheu Rachel Zegler, que não se encaixa minimamente nessa caracterização.

Essa escolha não foi um problema apenas visual, mas simbólico. Não se trata de uma simples mudança de elenco; trata-se de ignorar completamente a essência do personagem. A ideia de Branca de Neve sempre foi contrastar com a Rainha, cuja obsessão pela beleza era central à história. Quando você remove esse contraste, o próprio conflito se dissolve.

E não para por aí. O live-action foi duramente criticado por tentar reescrever a história para atender a uma agenda progressista artificial. A decisão inicial de remover os sete anões e substituí-los por "criaturas mágicas de diversidade" foi um insulto direto não só ao material original, mas também à própria comunidade de atores com nanismo, que perderam uma das poucas oportunidades de trabalho em Hollywood.

Após as críticas, a Disney tentou recuar e trazer os anões de volta—mas o estrago já estava feito. A tentativa de agradar a todos apenas resultou em uma produção sem identidade, que não sabe se respeita ou não sua própria origem.

O Beijo do Príncipe e a Destruição do Romance

Outro aspecto fundamental da história original que foi atacado nessa adaptação foi o romance entre Branca de Neve e o Príncipe. Em entrevistas, Rachel Zegler deixou claro que sua personagem "não será salva por um príncipe", pois isso seria um exemplo de "fraqueza feminina".

Essa é uma das alterações mais absurdas do filme. O beijo do Príncipe, muitas vezes criticado como um "beijo sem consentimento", nunca foi sobre um ato predatório. Era um símbolo do amor verdadeiro, um elemento essencial dos contos de fadas. Ao remover essa cena, o filme não apenas desconstrói a história, mas nega a própria lógica do gênero no qual está inserido.

Se Branca de Neve não precisa do Príncipe, então qual é o seu arco? Que desafios ela enfrenta? Sem o romance e sem a rivalidade baseada na beleza, sobra apenas uma narrativa genérica de "protagonista forte e independente", um clichê repetitivo que Hollywood insiste em empurrar ao público sem oferecer profundidade real.


Uma História Sem Alma

O que está acontecendo com Branca de Neve não é uma simples adaptação moderna. É um desmonte completo da história em nome de uma agenda que não valoriza a narrativa, mas sim um discurso vazio sobre empoderamento artificial.

Branca de Neve não precisava ser reescrita para ser relevante. Sua história já trazia temas universais: inveja, beleza, juventude, poder, romance e redenção. Mas ao tentar "atualizá-la" para um público moderno, a Disney apenas a destruiu.

O espelho mágico não precisa responder à Rainha Má quem é a mais bela de todas. Porque, na nova versão, beleza, amor e magia já não existem mais.

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